Sociedade da justiça ou sociedade do ódio?

18/10/2013 19:02

       Criado por Aristóteles, o princípio da Isonomia norteia o direito garantindo que os “iguais devem ser tratados igualmente e os desiguais desigualmente na medida de sua desigualdade”. A doutrina Aristotélica, influenciada pelo sacrifício de Sócrates, demonstra certo temor ao fato de a justiça poder cometer injustiças, e propõe uma abordagem ética (ethos) em relação ao tema, inclusive colocando a Equidade (Equus) em um patamar superior à própria justiça, ou seja, a justiça é virtude, mas a equidade é que torna um homem justo em virtuoso. Equidade é a justiça aplicada ao caso concreto.

       Mesmo proveniente do Séc. IV A.C, a concepção Aristotélica é atemporal e relevante ao direito, entretanto, é COMPLETAMENTE ignorada pela sociedade pós-moderna, que tem seus valores distribuídos por meios de comunicação de massa defensores de um ideal burguês e excludente.

       A extrema direita, sob a bandeira da defesa de princípios como a justiça, desenvolvimento e bons costumes, acaba por estabelecer conceitos que lembram a arcaica lei do talião (dente por dente olho por olho), gerando uma sociedade baseada no ódio, ao invés de uma sociedade baseada na justiça. É importante frisar que a extrema direita criou o nazismo e o fascismo, portanto, a pulga nunca deve sair de trás da orelha...

    Desigualdade + Falta de reflexão (educação reflexiva) + Mídias de massa + Sociedade do Medo – Perspectiva do outro = Sociedade do ódio. Explicaremos os fatores:

    - Desigualdade: Não há muito que se falar a respeito de desigualdade, pois seria o mesmo que explicar a existência do sol ou do mar. A desigualdade social é uma triste realidade  da humanidade e, dentro de um sistema capitalista, ela é ainda mais cruel. Só quem tem dinheiro tem acesso, só quem tem acesso consegue ter dinheiro, e nesse “circulo virtuoso” os de origem humilde só conseguem atingir um nível mínimo de dignidade com sorte ou compaixão do capitalista. A questão não é trabalho. Se fosse, o pedreiro que acorda às 5 da manhã seria mais rico que o investidor.

    - Mídias de Massa: As mídias de massa são um fenômeno decorrente do desenvolvimento capitalista.Não pense que a televisão, o rádio ou a internet têm como finalidade a comunicação simplesmente.Todos os programas da televisão e portais são financiados pelo capital (corporações). As mídias de massa possuem a intenção de VENDER PRODUTOS OU IDÉIAS. 

Mesmo que a ideia inicial não seja capitalista (a internet foi criada por um grupo de jovens cientistas para “socializar” o conhecimento) o poderio financeiro absorve as mídias, e isso gera meios muito mais alienantes do que esclarecedores.
                Mídias de massa geram uma necessidade de consumir, e somadas à desigualdade, geram VIOLÊNCIA.

      - Déficit de reflexão: É ponto passivo em qualquer discussão que a educação não visa a formação de seres críticos e pensantes. Dentro de um sistema baseado na desigualdade, não é interessante para a classe dominante que a classe dominada tenha consciência de sua situação. Portanto claro é que a educação é meio de propagação de alienação, acarretando em uma massa facilmente manipulável e que, fechada em uma concepção cartesiana (fragmentada) não consegue enxergar a complexidade das coisas.  (ler Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, de Edgar Morin)

        Então, podemos concluir que violência + déficit de reflexão forma uma sociedade cega, que fala mas não pensa, ou melhor, que pensa mais não sabe o porquê pensa...

        - Sociedade do medo: Pode ser considerado um desdobramento das mídias de massa, uma vez que são essas mídias que propagam as suas ideias e formam o seu gerador de receita, o terror.

        A indústria bélica é uma das que mais movimentam capital. Países com tecnologia na fabricação de armas de fogo ou de segurança movimentam rios de dinheiro e só compra arma quem tem medo. Logicamente não seria interessante para esses poucos beneficiados que a sociedade deixe de ter medo ou ódio, pois esses sentimentos mobilizam as pessoas e as nações à “corrida da segurança”.

        Os pontos facilmente são ligados.....Desigualdade.....Consumismo.....Falta de Reflexão....Medo....

        - Extinção da perspectiva do outro: A única subtração em nossa equação é um desdobramento da falta de reflexão. Colocarmos-nos na situação do outro, ver o mundo com outra ótica que não seja a sua própria é uma ameaça ao tecido maléfico da sociedade do ódio.

         O primeiro passo para cometer qualquer atrocidade é a certeza absoluta de que não seria o outro, mesmo que estivesse na situação que ele se encontra. “Eu jamais faria tal coisa, mesmo que estivesse na situação dele” é a pior frase que um humanista pode ouvir, porque ninguém pode ser isentar que qualquer coisa, ninguém pode ser o que não é e muito menos julgar as ações de outros sob sua perspectiva. Se neutralidade é essencial para um juiz, quem dirá para um cidadão comum quando analisa qualquer ato que não seja seu. Cada pessoa é um universo e cada um universo é indecifrável...

         E o resultado dessa equação é uma sociedade que se fundamenta no ódio, que julga sem perceber o outro. Sociedade sedenta de sangue que quer ver morte; acredita que se é pobre é vagabundo; se é pobre é porque quis; se é ladrão merece morrer, se é diferente merece sumir.... Sociedade que aceita o que é dito, sociedade que se baseia em distorções de todos os sentidos, desde religiosas até distorções sobre o que é justiça.

         E para mudar essa fórmula nefasta, só a equação Ética + Amor = PAZ.

         Aristóteles fique tranquilo, ainda existem pessoas que compartilham de seus ensinamentos e essas pessoas não cansarão de questionar.

          “Responder a injustiça com a injustiça somente geraria a injustiça ad infinitum” (Sócrates)