Renascença

06/07/2020 23:09

Agora me tornei adulto e só restou revirar umas caixas de e-mails antigas em que tive a agradável de surpresa de me reecontrar.

Desde a última postagem, em 2014, tudo mudou, eu mudei, me mudei. Veio a companheira de vida.Veio o Vi. 

Vieram dois diplomas, algum dinheiro e realizações. Mas o fogo que ardia enquanto escrevia esses poucos textos, esse continua o mesmo.

O Brasil não mudou muito, mas mudou para pior, a farsa de cordialidade caiu e as cadelas do fascismo é que estavam por detrás das cortinas. Sedutoras, ferormônio de atrair classe média, seu cio cheirava a ódio e, como ratas, rapidamente se reproduziram.

Pois neste contexto é que, residindo no interior do interior, onde achava que iria me encontrar, eu me perdi de vez em um emaranhado de responsabilidades, moralismo e hipocrisia. Submerso em uma piscina de medo. Medo de vírus, medo de gente, medo de reputação, medo de medo.

O difícil nestes tempos é manter a verve. É seguir olhando nos olhos de quem, por ignorância ou sadismo, saúda o ódio que quer destruir tudo o que construímos.

É foda ser o alvo do discurso dos nossos pais.

O duro é ter que aguentar tanto tapa na cara. Agressões gratuitas às poucas coisas que conquistamos. Ser arrogante por estudar, ser mesquinho por economizar, ser um merda por gostar de ler. Lázaro! Alguém?

A sensação é que os alicerces valorativos sobre os quais nossas personalidades foram forjadas simplesmente viraram pó. O bom virou mau, o bem virou mal. O diferente virou inimigo, como se todos estivéssemos em um imenso coliseu, feitos para o combate sangrento, onde não há espaço para a empatia. 

Cristo 2.0 é um empresário que defende a eugenia e faz requerimentos direto ao presidente. Deve ter enjoado de dois milênios ao lado dos pobres e excluídos. Até ele cansou.

O último homem, a grade de ferro, ebola, ciclone bomba, coronavírus. Estamos em 2020, e eu estou aqui escrevendo novamente na internet, com a esperança de deixar textos que o meu filho possa ler e se orgulhar...

 

Pedrada - Chico César

Cães danados do fascismo
Babam e arreganham os dentes
Sai do ovo a serpente
Fruto podre do cinismo

Para oprimir as gentes
Nos manter no escravismo
Pra nos empurrar no abismo
E nos triturar com os dentes

Ê república de parentes pode crer
Na nova Babilônia eu e você
Somos só carne humana pra moer
E o amor não é pra nós

Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar (vai voar)
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!

https://www.youtube.com/watch?v=jRebDMJGHQ0