O Zé Ruela e o Socialista de beira de piscina...

27/09/2013 22:13

Algumas semanas são marcantes. Um novo emprego, uma nova amizade, uma prova mal elaborada ou até mesmo uma grande discussão são coisas marcantes para nossa alma, que nos fazem recordar.

 Dentre todos os acontecimentos extraordinários que a vida me proporcionou na semana que passou, duas figuras me chamaram tanto a atenção que resolvi dissertar sobre elas. Apresento-lhes o Zé Ruela e o Socialista de Beira de Piscina.

Primeiro sobre o José:

O Zé Ruela é o não enquadrado socialmente, o famoso perdedor. O Zé não conseguiu “se dar bem” na vida e acabou por amargar uma situação financeira pouco privilegiada. Pobre, Zé nasceu sem atributos e desprovido de vontade para “vencer” na vida. De acordo com o senso comum (que infelizmente não teve outra escolha a não ser se apegar na ignorância para não sofrer pelos absurdos aos quais estamos expostos diariamente), merece estar naquela situação. Pobre Zé, burro, fraco de espírito, pouco trabalhador e sem internalizar o avanço e o lucro....

Para melhor definirmos o nosso Zé Ruela, vamos ao seu antagonista, o “Bem sucedido”. Eis a figura do bem sucedido, bonito (de acordo com os padrões), trabalha muito para poder conquistar as suas coisas (coisas que são decididas pelos padrões), vive sua vida sem perder tempo. O bem sucedido sabe o que quer, é padrão de beleza. Forte e sempre simpático, ele sabe como ninguém atingir os seus interesses (interesses definidos pelos padrões).

Olhando bem essas duas figuras, não sei a razão, mas sinto enorme simpatia com os “Zés Ruela” do que com os bem sucedidos. Talvez o Zé ruela não foi sorteado com uma oportunidade que se adequasse às suas qualidades, talvez o Zé não tenha conseguido seguir os padrões, e por isso, paga com a sua imagem, e, por inúmeras vezes, com a sua miséria material.

Entretanto, o Bem Sucedido não existe mais, ele não prefere nada, ele não escolhe, ele não pulsa, pois tudo isso já foi feito pela mídia, pela novela, pelo senso comum. O Bem Sucedido nunca perceberá que as coisas com as quais ele se posicionou para atingir sua condição são perecíveis, ele não se dá conta de que ele mesmo é perecível.

Imagine só um diálogo entre um Zé Ruela e um Bem Sucedido:

Zé Ruela: - Ei Bem Sucedido, o que você conquistou?

Bem sucedido: Eu sou bonito, sou rico, trabalho de segunda à segunda, faço viagens internacionais. E você, o que você é? Não passa de um Zé Ruela que deveria ir atrás dos seus sonhos, assim como eu fiz.

Zé Ruela: - Eu estou vivo, e isso me faz ser bem sucedido, ou será que alguma das coisas que você conquistou irão te fazer viver para sempre? Bem sucedido é o homem que acorda, porque o que morre dormindo não tem mais perspectiva de ser feliz....Realmente você é tão pobre, que só te sobra ser rico...

 

MUDANDO DE ASSUNDO...

 

Já o Socialista de Beira de Piscina (SBP) é aquele garoto, vindo de família com alguma condição financeira, que resolve criticar o sistema que tanto o beneficiou. “Oras, você só está criticando porque seu pai está ralando”, “é fácil falar, quero ver dividir seu dinheiro”, “nunca batalhou para nada e agora quer dizer que o sistema está errado?” são frases que diariamente ele terá que ouvir. Respirar fundo e tentar explicar as suas aspirações é sempre o melhor que pode fazer....

O SBP não deveria criticar, deveria se colocar em seu lugar de beneficiado e ficar quieto, assim como alguém que vê uma senhora sendo assaltada, mas não está sendo assaltado e, por isso, não reage. Mas será que essa concepção procede?

Vale pontuar, QUEM, em uma sociedade que não oferece a menor condição de vida para as classes menos abastadas, deveria se colocar diante dos menos favorecidos? Eles próprios? Sem estudo, sem casa, sem condições mínimas e diariamente sendo maltratados pelos patrões e pelo Estado? Seriam essas as pessoas mais indicadas a olharem para o mundo sem realmente ver as injustiças? A resposta é NÃO.

Como o irmão mais velho, que é mais forte e por isso protege o irmão mais novo, as classes abastadas deveriam ACOLHER os seus IGUAIS, porque isso é SOLIDARIEDADE.

ÉTICA, que é exercício de RAZÃO, consiste em discordar com situações praticamente benéficas para o sujeito, que, por SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO, consegue perceber que nem todo ZÉ RUELA é culpado de sua situação. Por VISÃO DE MUNDO, os RICOS deveriam olhar para os pobres com olhos de COMPREENSÃO, ao invés de vê-los como a raposa vê a lebre ferida, ou seja, com olhar de PREDADOR, EXPLORADOR, INDIFERENTE A CONDIÇÃO ALHEIA.

O mundo não é Hollywood e QUALQUER UM pode enfrentar dificuldades e, quem é realmente ajudado, um dia poderá te ajudar, e não é de só grana que eu estou falando...

Portanto, eu sonho com um mundo onde TODOS OS JOVENS sejam socialistas de beira de piscina, porque exercitando a reflexão eles NÃO SERÃO RICOS VAZIOS amanhã.

                O “Beira de Piscina” refere-se ao fato de esse garoto sonhador não se movimentar de maneira revolucionária, então lhe pergunto: DEVERIA ESSE GAROTO PEGAR EM ARMAS E TENTAR A REVOLUÇÃO? A resposta é não, porque se ele fizesse isso com o apoio dos explorados, a classe dominante seria EXPURGADA, e, como sabemos, as coisas não devem ser assim. Portanto lhe pergunto, o que sugere o Sr. Matador de Idéias?  Pois saiba que tentando matar ideais, você está os fortalecendo, porque mais e mais PÍFIA torna-se a sua posição e as pessoas ao redor sentem isso. Saiba que o Sr. Matador de Idéias é na verdade o combustível do sonho, porque o sonho tem mais um objetivo, que é lhe mostrar o tamanho de sua ignorância.

                Che Guevara, Nelson Mandela, Karl Marx, Mahatma Gandhi, Buda, Rui Barbosa são alguns exemplos de playboyzinhos, ou melhor, Socialistas de Beira de Piscina, que viram o quanto as coisas podem melhorar, e marcaram para sempre seus nomes na minha e na sua história.

                UM SALVE AOS ZÉ RUELAS E OS SOCIALISTAS DE BEIRA DE PISCINA DO BRASIL!