Afinal, o que é crítica?

19/09/2013 14:46

        Crítica: 1.Arte de julgar  2.Conjunto dos crítico  3.Exame minucioso 4.Julgamento hostil (dicionário melhoramentos da língua portuguesa)

        Muito se discute a respeito do que é crítica e qual sua finalidade no contexto social. Essa discussão é de grande valia para o desenvolvimento de diversas ideias e será de fundamental para nortearmos os trabalhos deste projeto, afinal, como poderemos desenvolver algo que possa ser realmente crítico se não pudermos ao menos definir o que é crítica?

        Aí está o cerne dessa questão, definir o que é crítica para realmente poder criticar. Grande parte do senso comum considera crítica como mero julgamento hostil, como o falar mal ou, pior ainda, como a atitude de pessoas que nada fazem a não ser maldizer as atitudes alheias. Obviamente que essas concepções reduzem drasticamente os efeitos da palavra e sua principal finalidade.

        Crítica possui origem etimológica no termo grego Kritiké, que significada nada mais nada menos do que a “Arte de Discernir”, ou seja, a arte de fazer juízo (separar o certo e o errado). Portanto, devemos considerar a expressão pelo seu caráter de neutralidade, e assim talvez, obtermos um melhor entendimento sobre o que é crítica.

        Immanuel Kant (1724-1804) utiliza o termo para designar a reflexão da validade e dos limites do ser humano ou de um conjunto de elaborações filosóficas. Na filosofia moderna, um ponto de vista crítico é antagônico a um ponto de vista dogmático, ou seja, crítica nada mais é do que a negação de uma verdade absoluta, e nos ateremos a este critério.

        Partindo-se da célebre frase de Sócrates: ”Só sei que nada sei” a crítica é puro exercício de cognição a respeito da ambiguidade de uma aparente realidade e uma realidade encoberta, é a eterna busca de contrapontos, visando retirar os véus que confundem a nossa percepção para podermos compreender as coisas como realmente são, e não como simplesmente se apresentam (ou como outros querem que se apresentem).

        Sendo assim, a crítica deve ser atividade constante na vida de qualquer pessoa proposta a melhorar ou interferir nos atuais arranjos, e aí está a sua finalidade social. Crítica não deve ser encarada com um fim em si mesma, mas deve ser ferramenta de desconstrução de ideias fincadas no âmago do contexto social, ideias essas, que muitas vezes nos fazem contribuir para um cenário de brutal desigualdade.

        O simples ato de criticar não resolve e nem resolverá nenhum dos problemas em que estamos submersos, porém a crítica é uma lanterna que aponta para os erros, é o alarme de incêndio, é o indicador de que algo está errado. O crítico não sente prazer em criticar, ao contrário, criticar se faz necessário em função do tamanho desprazer que alguma circunstância gera.

        Todos temos noções básicas sobre o que é justo e o que não é, sobre o que é bom e o que é mal no sentido amplo de nossa existência, e criticar nada mais é do que utilizar o pensamento em prol de sua humanidade e de seus sentimento. Ser crítico é procurar analisar tudo, mesmo que muitas vezes possamos nos machucar (autocrítica).

        Ser crítico é ser um amigo da humanidade, é um estado de espírito, é condição que, uma vez atingida, nunca mais se perde, tal qual andar de bicicleta. Compartilhamos da tese de Theodor Adorno frisando que só se salvará a humanidade de sua desumanização através da crítica.